quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Comme il faut.

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
[Ricardo Reis]

Lendo velhos scraps, num pude deixar de postar isso.
Só Deus, o Dedéu e a Yza(talvez) sabem o quanto essa poesia importa pra mim.

"Creiam-me, não há problemas insolúveis. Tudo nesse mundo nasce com uma explicação em si mesmo; a questão é catá-la. Nem tudo se expicará desde logo, é verdade; o tempo do trabalho varia, mas haja paciência, firmeza e sagacidade, e chegar-se-á à decifração."

Machado de Assis.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Contra as reduções reconfortantes e as certezas pré-fabricadas das ideologias.

"Era a vertigem. Um atordoamento, um insuportável desejo de cair.
Eu poderia dizer que a vertigem é a embriaguez causada pela nossa própria fraqueza. Temos consciência dessa fraqueza mas não queremos resistir a ela e nos abandonar. Embriagamo-nos com ela, queremos ser mais fracos ainda, queremos desabar em plena rua, à vista de todos, queremos estar no chão, ainda mais baixo que o chão." (Milan Kundera em "A Insustentável Leveza do Ser")


(René Magritte - Las Vegas)


" ... quem começa duvidando de um detalhe acaba duvidando da própria vida." (M.K.,idem)

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Coisas de blog, né?


Enfiiiim, vencendo a preguiça! E respondendo à indicação do Bruno, aí vai o print do meu desktop:



Acho q não vou indicar ninguém pra continuar com isso. Só respondi mesmo pq foi meu quase gêmeo, né?
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Ando tão sem criatividade pra escrever! Tanto que quando me aproximo da caneta pra arriscar, ela escorrega e foge de mim; se pudesse, ela diria "Não! Não me use para concretizar suas expectativas loucas, nem os gritos roucos de sua mente!". Falta-me inspiração, superação, convicção. Inspiração, talvez porque em poucos momentos da minha vida eu tive algo por que realmente se dedicar, se ocupar, se preocupar! Superação... Falta-me a força pra vencer a mim mesma, meus medos, angústias, vergonha, medo da rejeição. E convicção, mais que tudo! De meus ideais, planos, projetos, sonhos. De mim. Estar certa do que quero, do que gosto, de quem sou, do que sou. Do que é certo, do que é errado. Do que é querer, do que é poder. De até onde se pode sonhar. Até onde se pode acreditar.
Vivo a antítese de minh'alma a cada dia. E é sempre mais e mais.
Escrevo linhas sem nexo, meros pensamentos soltos. Por que escrevo? Nem eu mesma sei. Vontade de colocar pra fora um décimo da confusão que sou. Vontade de fazer com que eu mesma acorde, e volte a tona, não me deixando conformar com esse caos de pensamentos e sentimentos, não deixando a apatia tomar conta de mim.
Quero um dia parar de escrever sobre a confusão, o caos, a desordem de pensamentos e sentimentos. Quero escrever sobre coisas concretas! Quem sabe um dia. E então, talvez a caneta deixe de fugir.


domingo, 13 de janeiro de 2008

Back in black, swethearts.



De volta, após alguns dias de ausência!
Em primeiro lugar, quero agradecer os presentinhos recém-recebidos da B!ah e da Janete!
Bom, então vou indicar a Rafa ao selo de "Blog Cabeça" ->






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Vou postar um texto q não é meu, nem de nenhum escritor famoso. Mas é de um graaande escritor. E, nas horas vagas, meu melhor amigo. O melhor do mundo. Nem pedi autorização para publicá-lo, mas deixarei os créditos; é q foi impossível não postá-lo após descobrir esse texto inédito aqui, perdido na confusão dos meus documentos. E logo esse, q foi feito pra mim. Ele não me disse isso, mas só eu poderia saber o porquê. Sem mais delongas, aí está:

No meio dos papéis


Cada um coleciona o que gosta, não? Insetos, tampinhas, selos, figurinhas... O Wando coleciona calcinhas; alguns, mais afortunados, colecionam carros; e os mais simplórios, placas. Tem quem colecione cartões de natal, meias sem par, receitas de bolo, bandeiras, pedras, beijos. Existem milhares de classes de colecionadores, e infinitas sub-classes! Por exemplo, existem os que colecionam bichos de pelúcia; mas existem especialistas, colecionadores de espécies, os que colecionam só girafas, ou ursos, ou sapos, ou elefantes. Sempre quis colecionar chaves. E não importa o quê se colecione, sempre será algo especial.

Eu coleciono trechos.

Palavras soltas, versos, crônicas de páginas, recados, bilhetes, anotações, pensamentos, recortes de jornais, ditos populares, aforismos, artigos, cartas, mensagens. Tem letras? Arranjadas de forma especial, única e com maestria? Posso citar? Entra pra minha coleção. Rótulos de embalagens engraçadas, panfletos mal escritos, frases de caminhão, piadas de bar... Gostei? Peguei.

E, embora meu arquivamento não seja meticuloso, sempre lembro onde está um pedacinho de papel no meio de milhões de outros. Aliás, isso me deixa deprimido, porque, mesmo que eu busque alternativas (como guardanapos, papel de pão, calendários velhos, bordas de livros) sempre uso papel compulsoriamente. E penso nas árvores. Então, fica aqui meu apelo ao desenvolvimento da tecnologia portátil e acessível.

E... Onde estava mesmo? Sim, na minha coleção!

Vasculhando minhas preciosidades outro dia encontrei algo especial. Uma raridade que havia se perdido, um trecho confiado a mim por uma amiga e que com carinho havia guardado, mas esquecido; minha dracma. E qual foi minha alegria ao encontrá-lo! Li três ou treze vezes o papel até que as palavras ficasse gravadas na mente, e pra pôr o leitor a parte transcrevo elas agora.

“Mulheres são como maçãs em árvores: as melhores estão no topo. Os homens não querem alcançar essas boas, preferem pegar as maçãs podres que ficam no chão. Assim as maçãs no topo pensam que algo está errado com elas, quando na verdade, aquele que é valente o bastante para escalar até o topo da árvore...”

Mas faltava uma parte. Afinal, que colecionador era eu? É como guardar um selo sem cola, colecionar relógios e ter um sem números, ter um Mickey sem orelhas na coleção, é como se o Wando guardasse uma calcinha furada. Mas há uma razão! O Wando guardaria sim uma calcinha furada, mas só se ela significasse algo mais pra ele, quem sabe uma noite daquelas. Porque pra um colecionador a singularidade é tão importante como a quantidade. Todos queremos ter em nossas coleções algo especial, único, só nosso e de mais ninguém! É de troféus que estamos falando.

E eu tinha o meu. Aquele texto trazia também o sorriso debochado de uma garota, um desafio de terminá-lo, minha honra em jogo. Eu o tinha guardado porque tinha um desafio, encerrar com um final digno dos gênios da literatura; tinha que criar algo simples, mas inteligente, sucinto, mas de impacto. Tinha que realizar o impossível pra mostrar a mocinha quem eu era.

Guardei-o só. Não acho que sou capaz de terminá-lo. É brilhante demais pra mim e só o guardei. Talvez pra provar que não sou escritor ou pra lembrar que só coleciono chaves de ouro, não as crio.


Wendell Máximo.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Como chegar até as nuvens com os pés no chão?

(Vladimir Kush)

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Cocktail Party

Não tenho vergonha de dizer que estou triste,
Não dessa tristeza ignominiosa dos que, em vez de se matarem, fazem poemas:
Estou triste por que vocês são burros e feios
E não morrem nunca…

Minha alma assenta-se no cordão da calçada
E chora,
Olhando as poças barrentas que a chuva deixou.
Eu sigo adiante. Misturo-me a vocês. Acho vocês uns amores.
Na minha cara há um vasto sorriso pintado a vermelhão.

E trocamos brindes,
Acreditamos em tudo o que vem nos jornais.
Somos democratas e escravocratas.
Nossas almas? Sei lá!

Mas como são belos os filmes coloridos!
(Ainda mais os de assuntos bíblicos…)
Desce o crepúsculo

E, quando a primeira estrelinha ia refletir-se em todas as poças
d’água,
Acenderam-se de súbito os postes de iluminação!

(Mário Quintana)

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Feliz Ano Velho.

Bem. Chegou o dia. O dia do ano em que todo mundo comemora, faz promessas que nunca cumpre, se enche de expectativas. Sinceramente, ano novo é pra mim como qualquer outro dia do ano. Não sinto aquela comoção que todos sentem, não sinto a mínima vontade de comemorar. Foi-se o tempo em que eu via graça em tudo isso. Belo? No máximo a queima dos fogos; que pra mim só é usada pra ludibriar as pessoas, fazê-las criar ainda mais esperanças, expectativas que não se concretizarão.
Ano novo pra mim, é no máximo, retrospectiva. É mais um "Adeus ano velho", com um quê de nostalgia, ainda que o ano velho não tenha sido de todo bom. Não, não é frustração. É apenas conclusão de que todos os "anos novos" são iguais; as mesmas esperanças, expectativas, promessas. Eu poderia começar com "Em 2008 pararei de roer as unhas.", mas de que ia adiantar, visto que desde que comecei a roê-las tenho prometido em todos os anos novos e até hoje não cumpri? Ou então poderia ser um pouco mais abstrata, mais sonhadora, embora isso não combine tanto comigo mais. Então, eu diria "Em 2008 não vou magoar aquela pessoa, não vou brigar com os meus amigos verdadeiros, não vou buscar a felicidade naqueles que estão longe." . Mas de que adiantaria? Se todos os meus anos são iguais? Minhas rotinas às vezes mudam, minhas companhias mudam constantemente; mas eu continuo a mesma. E por mais que tenha mudado, ou ainda mude, vejo que em minha vida pouco mudou. Talvez tenha mudado muito meu jeito de pensar, mas pouco meu jeito de agir. E infelizmente, não creio mais naquela auto-ajuda barata, que outrora ao menos me dava um certo alento, vontade de mudar. Não tenho certeza alguma do que sou, do que acredito, do que devo fazer e acreditar. Então continuarei cometendo os mesmos erros, enganando a mim mesma todos os dias com promessas e propósitos que não cumprirei; magoando as pessoas que realmente amo, e amando surrealmente as pessoas erradas.
Essa é minha vida, e ela apenas se mostra mais próxima do fim a cada ano novo.

"E as mãos do homem não têm mais sentido
Do que imitar as raízes sobre a terra."
(Frederico García Lorca)